''Recentemente foi noticiado um estudo internacional , segundo o qual os gestores portugueses são dos menos competentes (com excepção da Grécia) num ‘ranking' envolvendo os gestores dos países da União Europeia.
A notícia parecerá estranha se tivermos presente o papel fundamental que os empresários têm tido no combate á crise económica. Ao fim e ao cabo a eles se deve uma das (poucas) alterações estruturais na nossa economia: confrontados com a grande diminuição do mercado interno, devido às políticas de austeridade, procuraram os mercados externos, fazendo subir a percentagem das exportações no PIB de 28% (antes da crise) para mais de 40% actualmente. É evidente que para este resultado contribuiu a acção de grandes empresas onde existe capacidade de gestão mas uma grande parte deve-se sem dúvida às PME onde o conceito de empresário se confunde com o de gestor.
Como se reconcilia então esta (aparente) contradição?: por um lado o estudo diz que os nossos gestores são os menos competentes, e em principio esta constatação dever-se-á dirigir antes de mais aos empresários-gestores das PME, mas por outro lado é inegável o sucesso traduzido no grande crescimento das exportações vindo destas empresas.
Uma das respostas pode ser encontrada na composição do universo das empresas portuguesas: num estudo do INE (de Junho de 2010, mas cujos resultados não se devem ter estruturalmente alterado até agora) sobre o número e composição das sociedades não financeiras, de um total de cerca de 350.000 empresas, cerca de 300.000, ou seja 85,7%, são microempresas, com uma dimensão média de 2,7 empregados. E as pequenas empresas, (cerca de 12% daquele total), têm também uma dimensão média reduzida, cerca de 15 empregados por empresa.
Isto é, cerca de 98% do universo das empresas portuguesas têm uma dimensão muito reduzida que não favorece a adopção de métodos e práticas de gestão modernos, e nas quais o empresário-gestor tem que assumir muitas vezes todos os papéis ( assegurar a venda, a produção, o financiamento etc). Acresce que uma parte importante destas empresas se situa em sectores tradicionais, de venda (e exportação) de produtos pouco elaborados, o que também não é favorável à adopção de atitutes e de práticas de gestão mais sofisticadas. A dimensão muito reduzida do nosso universo empresarial, e as consequências que daí resultam, sendo uma explicação, na minha opinião, não deve, no entanto, ser encarada como um obstáculo inultrapassável. Outros países têm também uma rede alargada de PME e, segundo aquele estudo, têm uma melhor posição no ‘ranking'.
É minha opinião que há também e sobretudo um problema de cultura de gestão empresarial nas PME: muitos empresários-gestores ou não têm conhecimento de instrumentos de gestão, como planeamento estratégico, orçamentos e controle de gestão, e também de uma gestão moderna de recursos humanos (de recrutamento, de incentivos, de motivação etc) ou conhecendo-os consideram que não são necessários ou não têm aplicação nas suas empresas.
Esta é uma questão fundamental que é necessário superar através da formação e da difusão das melhores práticas de gestão. Ao fim e ao cabo a atitude e os instrumentos de gestão são aplicáveis a qualquer empresa. Uma PME têm tanta necessidade de prever o comportamento do mercado, de elaborar um orçamento e de controlar os seus custos, como uma grande empresa. A diferença fundamental é que tem menos meios e por isso terá que adaptar os instrumentos de gestão à sua dimensão.''
Fonte: economico.sapo.pt/noticias/os-nossos-gestores-sao-dos-menos-competentes_216109.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opiniões