
''Na auto-avaliação os gestores portugueses eram os quintos entre 20 países. Mas na pesquisa sobre as práticas de gestão nas empresas descem para 14.º lugar''.
''No trabalho de investigação liderado pelos investigadores Nicholas Bloom e John Van Reenen, em que se contavam 8 mil empresas em 20 países, 79% dos gestores consideravam, na sua auto-avaliação, que as suas práticas de gestão estavam acima da média. O destaque foi para os gestores brasileiros que nesta auto-avaliação, com uma escala de 1 a 10, atingiram os 8 pontos e para os portugueses com 7,2, estes só batidos pelos brasileiros, chilenos, argentinos, canadianos e gregos. Mas depois, com os inquéritos às práticas de gestão, a gestão portuguesa caiu para 14º e a brasileira para o 18º. Foi o efeito do real a despedaçar uma construção da imaginação.
Como referem Bloom e Van Reenen em "The Radical Beauty of Three Simple Management Practices", a pesquisa concluiu que apenas 15% das empresas norte-americanas e 5% do total pontuavam acima dos quatro, na escala de 1 a 5 utilizada para medir as práticas de gestão. Na verdade, e sem surpresa, a qualidade média da gestão portuguesa está bastante abaixo da norte-americana, o que não surpreende pois, como alguém escreveu, os gestores norte-americanos estão para a gestão como os futebolistas brasileiros para o futebol.
No conjunto de 20 países, Portugal fica em 14º no que se refere às práticas de gestão (ver tabela "Práticas de gestão em empresas industriais"). Numa análise a este estudo, Luís Cabral, professor na Stern School of Business de Nova Iorque, concluiu que "a qualidade média da gestão em Portugal é baixa; mas isto não obsta a que as empresas portuguesas mais bem geridas sejam tão bem geridas como as melhores empresas mundiais". Acontece que o seu número é muito reduzido. Mas apesar destes dados, surpreendeu-o o facto de "excluindo em cada país as 25% empresas com menor nota, as diferenças entre países são muito menores. Por outras palavras, a grande diferença entre Portugal e os Estados Unidos reside no número de empresas com qualidade de gestão muito baixa: muitas em Portugal, poucas nos Estados Unidos".
Esta diferença transparece quando se comparam os resultados as empresas multinacionais em Portugal, que não são unicamente norte-americanas, e as empresas domésticas. As multinacionais presentes em Portugal têm uma pontuação de 3,3 contra pouco mais de 2,6 para as empresas nacionais. Por isso, como escreveu Ricardo Reis, professor de Economia na Universidade de Columbia, "mesmo num país onde as práticas de gestão nas empresas à sua volta são muito más, a multinacional consegue implementar uma boa gestão e ser muito mais produtiva do que as empresas nacionais. Não há nada de inato ou cultural que torna os habitantes locais ineficientes. São, simplesmente, mal geridos".
Os custos da má gestão
A má gestão tem reflexos na economia dos países e, como referiu Ricardo Reis, o alinhamento das empresas tanto pela sua nota na avaliação como pela sua produção por hora tem quase o mesmo ordenamento, com as melhores empresas a ocuparem o topo das duas listas e as empresas com notas de má gestão a serem pouco produtivas. E isto vale para o conjunto das empresas e dos países analisados. O problema de Portugal, como refere o mesmo economista, é que "as empresas no fundo da distribuição, não só são mal geridas, mas são muito piores do que as piores empresas nos outros países". E isto também pode estar relacionado com um outro indicador.
As práticas de gestão também variam significativamente com a estrutura de propriedade das empresas. As empresas com accionistas dispersos (em que nenhum accionista tem mais de 25% do capital), tal como as pertencentes a private equity tendem a receber melhores pontuações em gestão. Além disso, quando há um CEO externo em empresa familiares, estas são, em média, tão bem geridas quanto empresas com accionistas dispersos. Curiosamente as empresas familiares geridas tanto pelo fundador como por familiares têm pior pontuação que as empresas públicas.
A pesquisa incidiu sobre questões de lean production, ou seja, processos e comportamentos que optimizam as linhas de produção. Neste item Portugal teve uma pontuação de 3,07, tendo a média sido de 3,09. O desempenho e gestão por objectivos, enquanto processos e comportamentos que linham os aspectos físicos e humanos do negócio e alinham a organização num objectivo comum, também foi objecto de inquirição e Portugal ficou-se por 2,72 para uma média de 2,91. Na gestão de talentos - processos e comportamentos que optimizam a qualidade da mão-de-obra e maximizam o capital humano - Portugal teve o seu pior resultado com 2,61 para uma média de 2,84. Como escreveu Ricardo Reis, "deste estudo fica a impressão que, comparado com outros países, praticamente não existem bons incentivos no local de trabalho em Portugal. Recompensar os melhores funcionários e castigar os piores, incluindo despedi-los, são actos invulgares na indústria portuguesa. De uma perspectiva diferente, os gestores portugueses não são capazes de "consertar" pessoas, ou seja, recuperar membros improdutivos das suas equipas e elevar o seu desempenho". A pesquisa também examinou a estrutura organizacional das empresas, considerando diversos aspectos da autonomia de gestores e funcionários e a estrutura hierárquica da companhia.
Os quatro pilares da boa gestão
Para os investigadores liderados por Nicholas Bloom, a boa gestão está relacionada sobretudo com quatro factores: concorrência, globalização, capital humano e mercado de trabalho.
A concorrência é um factor corrente e apontado como tendo capacidade para gerar melhores desempenhos empresariais. Em ambientes concorrenciais as empresas tendem a esforçar-se por serem mais eficientes e produtivas. Uma das perguntas das entrevistas era quantos concorrentes é que o gestor considerava que tinha. Concluiu-se há uma clara correlação positiva entre o número declarado de concorrentes e a qualidade das práticas de gestão.
Globalização e a sua dimensão mais notória que são as multinacionais também influi e este tipo de empresas têm um desempenho superior às empresas domésticas em indicadores como a produtividade, remuneração dos empregados e as despesas com pesquisa e desenvolvimento. Como diz o estudo liderado por Nicholas Bloom "muito deste impulso para inovação e competitividade é resultado da rigorosa competição no mercado global". Assim as multinacionais tinham avaliação de 3,18 contra 2,71 das empresas domésticas e de 2,96 para o conjunto das empresas. O melhor desempenho médio das empresas multinacionais em gestão pode ser relacionado ao facto de poucas delas serem mal gerenciadas – a pequena "cauda inferior" da distribuição, destacada nos gráficos abaixo.
O capital humano e as suas competências é outro dos recursos que faz a diferença e determina a produtividade entre países. Por exemplo, as empresas com mais de 2% de funcionários com cursos superior tinham avaliações de 4,5 enquanto as empresas com notas inferiores a 3 apresentavam até 12% de funcionários com cursos superior. Por isso no estudo refere-se que "talvez não seja surpreendente que ter gestores mais formação académica ajude, mas também constatamos uma correlação igualmente forte entre o nível de instrução dos não-gestores e a pontuação de gestão. Parece ser mais fácil ter uma classificação superior em gestão quando os funcionários são mais especializados". Há também alguma correlação entre os países onde o mercado de trabalho tem uma regulação flexível e as melhores práticas de gestão, como, por exemplo, a gestão de desempenho e, em particular nos Estados Unidos. Mas como se refere no relatório de Bloom e Van Reenen "as regulamentações do mercado de trabalho não parecem influenciar negativamente outros tipos de prática de gestão".
É pois por estes pilares que passam, grande parte, os desafios da gestão das empresas portuguesas. Mas, como refere Ricardo Reis, "Portugal é pobre por ser pouco produtivo, a raiz deste problema está na má gestão das empresas portuguesas. Uma solução é melhorar a qualidade dos nossos gestores. (…) Uma maior qualidade de ensino produzirá também melhores gestores. Mas, para isso, é preciso também que estes melhores gestores possam competir, em termos justos, com os maus gestores instalados".''
No conjunto de 20 países, Portugal fica em 14º no que se refere às práticas de gestão (ver tabela "Práticas de gestão em empresas industriais"). Numa análise a este estudo, Luís Cabral, professor na Stern School of Business de Nova Iorque, concluiu que "a qualidade média da gestão em Portugal é baixa; mas isto não obsta a que as empresas portuguesas mais bem geridas sejam tão bem geridas como as melhores empresas mundiais". Acontece que o seu número é muito reduzido. Mas apesar destes dados, surpreendeu-o o facto de "excluindo em cada país as 25% empresas com menor nota, as diferenças entre países são muito menores. Por outras palavras, a grande diferença entre Portugal e os Estados Unidos reside no número de empresas com qualidade de gestão muito baixa: muitas em Portugal, poucas nos Estados Unidos".
Esta diferença transparece quando se comparam os resultados as empresas multinacionais em Portugal, que não são unicamente norte-americanas, e as empresas domésticas. As multinacionais presentes em Portugal têm uma pontuação de 3,3 contra pouco mais de 2,6 para as empresas nacionais. Por isso, como escreveu Ricardo Reis, professor de Economia na Universidade de Columbia, "mesmo num país onde as práticas de gestão nas empresas à sua volta são muito más, a multinacional consegue implementar uma boa gestão e ser muito mais produtiva do que as empresas nacionais. Não há nada de inato ou cultural que torna os habitantes locais ineficientes. São, simplesmente, mal geridos".
Os custos da má gestão
A má gestão tem reflexos na economia dos países e, como referiu Ricardo Reis, o alinhamento das empresas tanto pela sua nota na avaliação como pela sua produção por hora tem quase o mesmo ordenamento, com as melhores empresas a ocuparem o topo das duas listas e as empresas com notas de má gestão a serem pouco produtivas. E isto vale para o conjunto das empresas e dos países analisados. O problema de Portugal, como refere o mesmo economista, é que "as empresas no fundo da distribuição, não só são mal geridas, mas são muito piores do que as piores empresas nos outros países". E isto também pode estar relacionado com um outro indicador.
As práticas de gestão também variam significativamente com a estrutura de propriedade das empresas. As empresas com accionistas dispersos (em que nenhum accionista tem mais de 25% do capital), tal como as pertencentes a private equity tendem a receber melhores pontuações em gestão. Além disso, quando há um CEO externo em empresa familiares, estas são, em média, tão bem geridas quanto empresas com accionistas dispersos. Curiosamente as empresas familiares geridas tanto pelo fundador como por familiares têm pior pontuação que as empresas públicas.
A pesquisa incidiu sobre questões de lean production, ou seja, processos e comportamentos que optimizam as linhas de produção. Neste item Portugal teve uma pontuação de 3,07, tendo a média sido de 3,09. O desempenho e gestão por objectivos, enquanto processos e comportamentos que linham os aspectos físicos e humanos do negócio e alinham a organização num objectivo comum, também foi objecto de inquirição e Portugal ficou-se por 2,72 para uma média de 2,91. Na gestão de talentos - processos e comportamentos que optimizam a qualidade da mão-de-obra e maximizam o capital humano - Portugal teve o seu pior resultado com 2,61 para uma média de 2,84. Como escreveu Ricardo Reis, "deste estudo fica a impressão que, comparado com outros países, praticamente não existem bons incentivos no local de trabalho em Portugal. Recompensar os melhores funcionários e castigar os piores, incluindo despedi-los, são actos invulgares na indústria portuguesa. De uma perspectiva diferente, os gestores portugueses não são capazes de "consertar" pessoas, ou seja, recuperar membros improdutivos das suas equipas e elevar o seu desempenho". A pesquisa também examinou a estrutura organizacional das empresas, considerando diversos aspectos da autonomia de gestores e funcionários e a estrutura hierárquica da companhia.
Os quatro pilares da boa gestão
Para os investigadores liderados por Nicholas Bloom, a boa gestão está relacionada sobretudo com quatro factores: concorrência, globalização, capital humano e mercado de trabalho.
A concorrência é um factor corrente e apontado como tendo capacidade para gerar melhores desempenhos empresariais. Em ambientes concorrenciais as empresas tendem a esforçar-se por serem mais eficientes e produtivas. Uma das perguntas das entrevistas era quantos concorrentes é que o gestor considerava que tinha. Concluiu-se há uma clara correlação positiva entre o número declarado de concorrentes e a qualidade das práticas de gestão.
Globalização e a sua dimensão mais notória que são as multinacionais também influi e este tipo de empresas têm um desempenho superior às empresas domésticas em indicadores como a produtividade, remuneração dos empregados e as despesas com pesquisa e desenvolvimento. Como diz o estudo liderado por Nicholas Bloom "muito deste impulso para inovação e competitividade é resultado da rigorosa competição no mercado global". Assim as multinacionais tinham avaliação de 3,18 contra 2,71 das empresas domésticas e de 2,96 para o conjunto das empresas. O melhor desempenho médio das empresas multinacionais em gestão pode ser relacionado ao facto de poucas delas serem mal gerenciadas – a pequena "cauda inferior" da distribuição, destacada nos gráficos abaixo.
O capital humano e as suas competências é outro dos recursos que faz a diferença e determina a produtividade entre países. Por exemplo, as empresas com mais de 2% de funcionários com cursos superior tinham avaliações de 4,5 enquanto as empresas com notas inferiores a 3 apresentavam até 12% de funcionários com cursos superior. Por isso no estudo refere-se que "talvez não seja surpreendente que ter gestores mais formação académica ajude, mas também constatamos uma correlação igualmente forte entre o nível de instrução dos não-gestores e a pontuação de gestão. Parece ser mais fácil ter uma classificação superior em gestão quando os funcionários são mais especializados". Há também alguma correlação entre os países onde o mercado de trabalho tem uma regulação flexível e as melhores práticas de gestão, como, por exemplo, a gestão de desempenho e, em particular nos Estados Unidos. Mas como se refere no relatório de Bloom e Van Reenen "as regulamentações do mercado de trabalho não parecem influenciar negativamente outros tipos de prática de gestão".
É pois por estes pilares que passam, grande parte, os desafios da gestão das empresas portuguesas. Mas, como refere Ricardo Reis, "Portugal é pobre por ser pouco produtivo, a raiz deste problema está na má gestão das empresas portuguesas. Uma solução é melhorar a qualidade dos nossos gestores. (…) Uma maior qualidade de ensino produzirá também melhores gestores. Mas, para isso, é preciso também que estes melhores gestores possam competir, em termos justos, com os maus gestores instalados".''
Fonte: http://www.jornaldenegocios.pt/negocios_iniciativas/premio_excellens_oeconomia/detalhe/o_defice_da_gestao_portuguesa.html
Comentário: A notícia que trazemos hoje fala-nos do défice que existe na gestão em Portugal.
Este artigo, na nossa opinião, é bastante preocupante. O mesmo revela-nos que em Portugal há má formação de gestores e que isso irá trazer custos no futuro para a empresa. Este texto transmite-nos que devemos melhorar a formação em gestores, sendo que Portugal, neste estudo, obteve os piores resultados no que toca à otimização da qualidade de mão-de-obra e em maximizar o capital humano, o que é bastante preocupante pois isto dá-nos a perceção de que em Portugal não existem bons incentivos aos trabalhadores, ou seja, em Portugal é muito difícil pegar num funcionário com mau desempenho e conseguir elevá-lo para um melhor desempenho dentro da empresa.
Este estudo fala-nos dos 4 pilares da gestão segundo Nicholas Bloom, que são: a concorrência, globalização, capital humano e mercado de trabalho. O grande desafio de Portugal é aplicar estes conceitos e melhorar a qualidade dos nossos gestores.
Assim, será importante aplicar estes conceitos pois são a base para haver uma boa gestão e seria excelente também melhorar a qualidade de ensino, pois sem isso também não existirão bons profissionais.
Esta noticia demonstra que Portugal precisa definitivamente que melhorar a sua gestão, e o que falta é a consciência de que estamos mal a esse nível. Existem óptimos profissionais no nosso país, caso contrário, não era dito por esse Mundo fora que os portugueses são bons trabalhadores, como tal o que falta é mesmo uma boa Gestão de Recursos.
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