Portugal é uma meritocracia ou a república da “cunha”, do nepotismo e do amiguismo?
Consegue o emprego ou a promoção quem é melhor ou quem tem amigos?
Nas empresas, na administração pública, no ensino, nas instituições ou nos partidos,
são os mais competentes, talentosos e trabalhadores que têm êxito? Ou esses são afastados?
Alberto tinha a certeza de que o lugar seria seu. Ninguém, na empresa, tinha as competências e o talento dele, ninguém trabalhara tanto. Os comentários dos clientes confirmavam a sua convicção de que seria ele a entrar no quadro da agência de design onde há dois anos trabalhava a tempo inteiro, a recibos verdes. Dos três colaboradores, só ele cumpria horários, respeitava prazos, atingia padrões de qualidade verdadeiramente profissionais. A empresa não poderia dar-se ao luxo de o dispensar, mesmo que quisesse. Vários contratos em curso dependiam do seu contributo. Ele sabia-o, todos o sabiam. Naquele momento, Alberto era indispensável à empresa. Ao fim de dois anos, um dos três colaboradores, como fora prometido, entraria para o quadro e seria ele. Só podia ser ele.
Alberto sempre pensou que só precisaria de uma oportunidade. O difícil era entrar nalguma empresa, ou instituição, onde o deixassem mostrar o seu valor. Isso demorou vários anos, desde que terminou a licenciatura em Design pelo IADE. Mas quando conseguiu colaborar com esta agência, por recomendação de um professor, encheu-se de autoconfiança. Agora, nada o poderia deter. Seria excelente em tudo o que fizesse, criativo, engenhoso, diligente, irrepreensível.
“Nestes dois anos, fiz o que me pediram e muito mais”, diz Alberto. “Ultrapassei sempre os objectivos e as expectativas. Sentia que as coisas dependiam apenas de mim, portanto era para mim que trabalhava. Não pensava na recompensa imediata, mas no futuro. Empenhava-me, reflectia, estudava, trabalhava pela noite dentro. Era impossível fazer melhor. Fiz disso o meu lema: ninguém poderia fazer melhor. Dessa forma sentia-me livre, independente. Aos comandos da minha própria vida.” Não podia falhar. “Se a sociedade era justa, eu tinha de vencer. E uma pessoa justa acredita sempre que a sociedade é justa.”
Um dos outros colaboradores era amigo e antigo colega de escola do dono da agência. No dia da grande decisão, foi ele o escolhido. Alberto foi chamado para uma explicação sumária: o outro era de “mais confiança”, estava mais “dentro da lógica da agência”.
Se Alberto tivesse estudado Gestão de Recursos Humanos, saberia da importância das soft skills na condução de uma carreira profissional. Não basta ser bom tecnicamente, é também necessário dominar as subtilezas do relacionamento pessoal, os nexos da trama social. Isto está sistematizado nos manuais de ciência empresarial e a sua latitude de aplicação é muito vasta.
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-estado-da-meritocracia-em-portugal-1676233
Comentário : A notícia que escolhemos hoje é, digamos, um alerta para o que se passa em Portugal em algumas empresas na escolha de funcionários, promoções, etc. Este fenómeno é normalmente denominado de “cunhas”, que por vezes funciona em empresas privadas e sobre o qual se fala precisamente neste artigo. Na nossa opinião esta é umas das situações que mais deve alterar em Portugal, pois isto torna-nos num país corrupto e que deixa os candidatos a um posto de trabalho e que são entrevistados, a pensar que de que lhe serve ter estudos, de que lhe serve ter um talento, uma capacidade, etc. Os recrutadores que contratam alguém por conhecimento de um amigo, por interesses de negócios, etc, são na nossa opinião pessoas sem qualquer tipo de vocação para gerirem pessoas pois conseguem pôr acima dos interesses da empresa os interesses pessoais. Neste artigo é referida uma grande injustiça e que nos mostra muito bem a realidade das empresas em Portugal.
De 3 funcionários Alberto era o único que cumpria hórarios, respeitava prazos e atingia padrões de qualidade verdadeiramente profissionais, para chegar ao fim de tudo e ser ultrapassado por um amigo do dono da empresa. É um caso que dá que pensar, pois existe uma grande injustiça no tratamento dado a uma pessoa que deu tudo à empresa e que no fim é quase tratado como lixo pela mesma. Meus seguidores, as cunhas são algo de grave que existe em Portugal e nós como futuros gestores e se quisermos ter ótimos Recursos Humanos temos que parar com esta barbaridade das cunhas e deixar de lado a amizade e os interesses pessoais para que Portugal não caia no abismo empresarial.
Bom artigo :)
ResponderExcluirO artigo, bem como o comentário, são bastante verdadeiros. Isto acontece mais do que as pessoas pensam...
ResponderExcluir